sexta-feira, 15 de fevereiro de 2008

Aprendizados

Aprendi a morrer em 1973
quando o Fusca familiar
capotou várias vezes
e todos sobreviveram
ao maio-fio da vida.

Por engano, tomei veneno
mas não desceu por inteiro
por pura distração
acabou a infância.

Vários aviões ameaçaram
passei por turbulências
mas a queda, de verdade
só com a Monareta roxa.

Por fim, cochilei em outro Fusca
e acordei com algo amassado:
lá se foi outro carro
gastei mais uma vida.

Então perdi a pressa
vou aprender a viver
antes que seja tarde.

Cabo, febrero 2008

quinta-feira, 14 de fevereiro de 2008

Sonhos

Às vezes sonho
e nos sonhos, encontro velhos cadernos
com uma letra miúda
que julgo ser minha.

Não sei se os versos são meus
Se os motivos dos sentimentos
são de minha fonte.

Sei que às vezes sonho,
e nos sonhos, encontro velhos cadernos
com uns versos trôpegos
que julgo serem meus.

Nunca saberei se os versos foram escritos
por mim
Sequer saberei se os sonhos eram, de fato,
sonhos que posso dizer: meus.

Sei que às vezes sonho,
e nos sonhos, encontro velhos cadernos
com uma letra miúda
que julgo ser minha...

Botafogo\RJ, 3.02.08

domingo, 10 de fevereiro de 2008

Poeta

O poeta
anda de mãos sujas
cheias de poeiras
de pétalas.

O poeta anda cheio de tempestades
de flores
queimando lapelas.

O poeta beija os camelos
de seu deserto
chora em respeito
por algo que sequer nasceu
e depois cala.

O poeta mora no tempo
habita uma sombra
desliza para o ventre da vida
e a fecunda.

Cabo de Santo Agostinho, janeiro 2007