quinta-feira, 8 de junho de 2006

O perdão

Deixei de murmurar para dentro

abandonei as galinhas do terreiro

deixei esfriar o jantar

para olhar aquele último vento


Cansei de olhar faminto

para os girassóis do vizinho

pus ao chão o antigo cajado

e pedi desculpas ao velho bêbado

por não saber caminhar sem rumo

atendo a alma nas paredes


Já não há frenesi nesta tarde sem asas:

percebi que o soluço de quem chora

é a alma pedindo perdão sem palavras

segunda-feira, 5 de junho de 2006

Auto grafia

Investigo certas ternuras
Conto os degraus antes de subir
Sei o nome de cada pássaro
E seu estado civil

Abro janelas com o pensamento
Escorrego a cada banho de chuva
Rio eternamente das péssimas piadas
(tanto que me faltam os dentes
da frente)

Costumo tossir até a morte
(nas tardes de sábado)
Levo topadas na grama macia
E lenço praga aos deuses
Por ter dois dedões nos pés

Mas me dói completamente mesmo
É queimar os lábios
Cada vez que tomo café
E quando vou te beijar
Recebo reclamações
Do meu gosto de pomada

Ah, tu não sabes como doem as feridas
Antes de virarem cicatrizes?

Por Samarone Lima