quarta-feira, 15 de março de 2006

A poesia

Por Gustavo de Castro e Silva

Troco cinco poemas por um prato de sopa.
Escrevo versos podres num rolo de papel
desonrado, e jogo fora em serena descarga.

Não tenho honrado muito a velha poesia.
Talvez porque não esteja à altura dela.
Assim, leio poemas dos outros e sinto
como se fossem meus.
Afinal, poesia é poesia.
Não importa quem escreveu.

Começo um verso esperando nunca terminá-lo.
Mas ele quer, quer sair, desbastar, a mim, vir.

Não escrevo para ser poeta.

Escrevo porque não tenho saída.

Ou é isso.
Ou o nada.

E o nada, já tenho o bastante.

terça-feira, 14 de março de 2006

O que me escapa pelos dentes

Samarone Lima

O que me escapa pelos dentes
me escapa pelos olhos
pelas mãos

Transformo as sobras
em alimento
faço dos meus passos
o tamanho dos meus pés

Não vou ao lugar prometido
não quero o coração
do tamanho das tempestades

Abro os braços para a arte vã
de sentir-me ileso
enquanto os vendavais
arrastam as casas e o chão

E quando tudo está longe
sinto um breve sorriso
nos meus lábios quase serenos