Por esquecimento
Eu vinha com os dentes muito atentos
Mas a fome era maior que a alvura
e uma lembrança me atingiu como um cheiro.
Era um tempo que me faltava. Uma sombra
que se perde por esquecimento.
Uma nostalgia sem razão.
Fiquei olhando os pratos, talheres, as mãos
tão delicadas.
Havia talvez uma estética
me apontando o quadro, os diálogos
a cadência dos gestos.
Mas meus dentes
estavam pulsando sem meu consentimento
A fome, repito, era maior que a alvura
e uma lembrança me atingiu como um cheiro.
Era de fato um tempo que me faltava.
Uma sombra que se perde
por esquecimento.
Aurora, 17.08.2010