quarta-feira, 18 de agosto de 2010

Por esquecimento

Eu vinha com os dentes muito atentos
Mas a fome era maior que a alvura
e uma lembrança me atingiu como um cheiro.

Era um tempo que me faltava. Uma sombra
que se perde por esquecimento.
Uma nostalgia sem razão.

Fiquei olhando os pratos, talheres, as mãos
tão delicadas.
Havia talvez uma estética
me apontando o quadro, os diálogos
a cadência dos gestos.

Mas meus dentes
estavam pulsando sem meu consentimento
A fome, repito, era maior que a alvura
e uma lembrança me atingiu como um cheiro.

Era de fato um tempo que me faltava.
Uma sombra que se perde
por esquecimento.

Aurora, 17.08.2010

segunda-feira, 16 de agosto de 2010

Diário

Há quarenta dias
estou preso a uma saudade
feita de ferro e fogo
embora sem nome.

De minha janela
vejo torres, minaretes
carros sem cor
na contramão das minhas lembranças.

Duas bicicletas virgens
estão prontas para a fuga.
Mas é tarde.

Amarro meu sol
ao riso da mesma espera.

Fico mais um dia
com a saudade gravada nos ossos

Me salvo pela certeza da partilha
e alguma condição de semente.

Bar Princesa Isabel, 29.09.2008