domingo, 10 de outubro de 2010

O perdão

o perdão cresce em minhas pernas
sai pelos meus cabelos
como um espantalho que se perde.

Não há mais sangue
para correr na luz difusa
para me devolver uma dor
que já não é minha.

Estendo as mãos ao passado
(esse companheiro de ternas alianças
tantos remédios
que já se acreditava pronto).

O sol, os rios, os mares
tantos gigantes indefesos
que rechaçaram suas fúrias.

Assim, na transparência dos minutos
abandono antigas lutas
que julguei minhas.

Deixo ao perdão
uma tarefa de ser
em meu lugar.

Sou em meus cabelos de fogo
minhas unhas pequenas
minha pele enrugada e antiga.

Sou em minhas palavras, meu silêncio
minha voz sem ritmo.

Sou meu nome.

Adeus sem destino.


lisboa, 4.x.2010