Anotações
Anoto a vida.
Anoto essa mão estendida
Não sei se é poesia, o que faço
Se é o puro mormaço
Dar ruas do Recife
Das ruas do passado.
Anoto o que dizem
O que me cala
Anoto o dízimo do dia
O olhar opaco
De quem vai porque vai
De quem não tem porque ir.
À espera de tudo
Essa boca que se desespera
E lambe o escuro.
Anoto minhas roupas penduradas
Num varal de 1976
(era noite clara e podia vê-lo
pelo barulho do vento).
Anoto a vida.
Não sei se é poesia, o que faço
Se é puro cansaço.
Anoto o que me escondem
O que sequer nasceu
Mas tem sobrenome.
Anoto o que disseram ser meu.
Um dia
Deixarei um silêncio
Sem ponto final.
Um silêncio meu
O último
E a busca da poesia
Terá terminado.
1 Comentários:
Lindo, maestria em anotar a vida, isso é que faz o poeta, anota a vida e a transforma em palavras, como diria Manoel de Barros:
"Poeta é um ente que lambe as palavras e depois se alucina."
Postar um comentário
Assinar Postar comentários [Atom]
<< Página inicial