segunda-feira, 15 de novembro de 2010

A praça azul

Estou aqui
depois de ver os fuzilados
da Praça Azul
(os últimos sorridentes
da estação).

Olho, penso que ignoro,
mastigo minha dissidência
com força de fera,
olhos de cão.

Súbito, todas as forças
se tornaram antigas.

O pranto continua a machucar
a sombra atrás de mim
meio metro à frente do meu corpo
onde morre o silêncio
em sua foz
onde morro em mim.

Estou aqui.
há pouco tempo
lavaram a Praça Azul
adornaram-a com flores circunspectas
plantaram árvores burocráticas, habituais
vindas de outro país,
outra língua, outro som.

Agora dizemos árvore e o verde sangra.

A praça, no entanto,
permanece azul,
tão fuzilada quanto.

Aurora, 14.XI.2010, em sonho.