terça-feira, 1 de novembro de 2011

O dia

Drummond, agora tens um dia.

A celebração começa em tua estátua
taciturna e inquieta
para onde fluem desabafos, tristezas, fotos.

A celebração se espalha por capitais, palafitas, memoriais,
mexe com os ferros de Itabira
dissolve teus nós tão silenciosos,
tão mineiros
tão meus.

Agora deste para renascer
como uma tarde observada em silêncio.
Teus poemas alcançam a moça que amanhã casa
o homem que soube ontem
do nódulo na garganta
e já olha mais manso
para o chão.

Alimentas os animais feridos,
os homens feridos
o Drummond ferido.

Amanhã passaremos às lembranças.

Ontem, Drummond, estiveste nas casas, nos botecos,
nos trens que sequer existem
Nos tísicos que já não morrem de poesia.

Pego minha caneta à procura de uma palavra
para teu dia
Ela está quente à sombra
queima meus dedos
meus segredos
queima o meu dia também.

Recife, 31/X/2011
Ao Carlos.