terça-feira, 26 de dezembro de 2006

Húmos

Por Samarone Lima

Telhas prontas para novas goteiras
flores clandestinas no enterro do jardineiro
amuletos esquecidos pelo pai-de-santo amnésico
as mudas tempestades que arrancam até as frestas

Caramujos apaixonadíssimos por uma tal "parede rugosa"
Folhas em festa com tanto orvalho
o homem que pensava longamente
sobre a extensão da eternidade
antes de soltar seu imenso peido.

Os sapatos que dançam sozinhos
ao final da festa maçante
a luz pingando dos olhos
do meu amigo Neon da Silveira

Calos maiores que as mãos
Ossos que viraram farelinhos
naquela tarde ruidosa de 1976
sob o céu armado de Buenos Aires.

Essas coisas que não servem para a vida
eu bem quero para ti,
poesia.