sábado, 10 de novembro de 2012

Anotações

Anoto a vida.

Não sei se é poesia, o que faço

Se é o puro mormaço

Dar ruas do Recife

Das ruas do passado.

 
Anoto o que dizem

O que me cala

Anoto o dízimo do dia

O olhar opaco

De quem vai porque vai

De quem não tem porque ir.

 
Anoto essa mão estendida

À espera de tudo

Essa boca que se desespera

E lambe o escuro.

Anoto minhas roupas penduradas

Num varal de 1976
(era noite clara e podia vê-lo

pelo barulho do vento).

Anoto a vida.

Não sei se é poesia, o que faço
Se é puro cansaço.

 
Anoto o que me escondem
O que sequer nasceu

Mas tem sobrenome.

Anoto o que disseram ser meu.

Um dia
Deixarei um silêncio

Sem ponto final.

Um silêncio meu
O último

E a busca da poesia
Terá terminado.