sexta-feira, 28 de setembro de 2007

Eu vim

De Murilo Mendes

Eu não nasci no começo desse século.

Eu nasci no plano do eterno.

Eu nasci de mil vidas superpostas.

Nasci de mil ternuras desdobradas.

Eu vim para conhecer o mal e o bem.

E para separar o mal e o bem.

Eu vim para amar e ser desamado.

Eu vim para ignorar os grandes e consolidar os pequenos.

Eu não vim construir a minha riqueza.

Não vim construir a minha própria riqueza.

Mas não vim para destruir a riqueza dos outros.

Eu vim para reprimir o choro formidável.

Esse choro formidável que as gerações anteriores me transmitiram.

Eu vim para experimentar a dúvida e a contradição.

E aprendi que é preciso idolatrar a dúvida.

terça-feira, 25 de setembro de 2007

Poemas sob encomenda

O Lula Terra mandou os títulos e me encomendou poemas. Fiz esta pequena série. Aceito sugestões de títulos, para meu livro "Poemas sob encomenda".
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Poema para caixas de fósforo

Fósforos “Queluz”
Aqui na minha mesa
Risco os 40 palitos
Queimo meus cabelos
Enxugo as lágrimas
De você que não veio.

Queluz que nada
Vou agora de “Fósforos Paraná”
Acender meus cigarros
Meus incensos, meus baratos
E te apagar
Sem me queimar.

Poema para cantar de galo

O galo que canta

Seus males espanta?


Poema para calando dançar
O calango, parado, a me olhar
Calmo, meditativo e espiritual

O calango ficou me olhando
De revés

Foi então que apontei a mangueira
E ameacei molhá-lo

“Dança, calando filho da puta
dança sem parar!”

E o calango se escondeu
Sem dizer a deus
Quem dançou fui eu.

Poema para corno se matar
Estava certo mesmo
O velho Batman
Que pensou muitas horas
Deitado na rede

E chegou à conclusão
Que um homem sem chifres
É um animal indefeso.

Poema para ruas sem ninguém

Rua sem ninguém
Equanto um não vai
O outro não vem.

Poema para deserto
Em pleno deserto
Me lembro do terceiro pedido
Ao gênio da lâmpada.
Daí-me, ó gênio
Aquele garrafão de 20 litros
Bem geladinho
E nem precisa ser Indaiá.

Poema para gatos que conferem vida às bolas

O gato olha, olha
A bola que rola

O gato confere, pensa, repara
Até que decide:

"Hora de dar uma bola”.

Poema para a melissinha

No nosso segundo encontro
Ela veio de melissinha

E eu disse: Melissa
Não seja tão redundante!