quarta-feira, 9 de novembro de 2005

O tempo

nossa
ontem meu terapeuta ficou tão assustado comigo
que me assustou
o ápice foi dizer que bebia água da torneira por cinco dias e
que fiquei três sem tomar banho

nunca me vi tão suja como agora
e com preguiça
e repito a sujeira
pelas palavras e atitudes
comodismo

eu quero nascer
quero brotar
eu quero tanto

quero?

da onde vem tanto medo de ir
e tanta angústia de ficar

bebida
bebida
bebida

a cabeça acorda e quer dormir
fraqueza
de todas as formas
terrores
alucinações
proliferações

a lagarta

os bichos andam presentes ultimamente
os cupins nasceram da separação

a torre

destruição da torre
queimada
ela expele
cospe
joga
dois seres para lados diferentes

a queda
e depois suas consequencias
pareço louca

no entanto
que momentos mágicos aparecem
pude ver pequenos estalos de luz
que seus segundos se fazem presentes até hoje

não eram bichos
eram brilhos

e no meio de tudo
de alguma forma
se vive
e, meu deus!
quantas coisas nascem

pensamentos que nascem da dor

e o desejo
tão grave
tão esperado
desperado
de ficar bem

questões
e mais umas
estar só
sentindo ser
momento
e mais uns
serão sempre diferentes
e vão

como é bom aprender
com o bonito do tempo


Maria Laura, de São Paulo.

A memória é uma tela de aromas farpados

A memória é uma tela de aromas farpados:

Uns amam tanto.
Outros, não amam nada.
Há quem passe pela vida
sem saber o que é o amor,
apenas, amolando facas,
desentortando pregos,
dispondo arames farpadosem torno de si.

Para manter um amor
é mais importante ser sábio
que amoroso.

O amor faz a gente
conversar com o nada
cozinhar estrelas no azeite
ver sentido onde não tem,
beber veneno e achar bom.

Amar amar amar
como quem sacia a sede
com um copo de cicuta.


Gustavo de Castro e Silva, poeta brasileiro, 37 anos.

terça-feira, 8 de novembro de 2005

Insurgências

Meu nascedouro foi ocupado
por insurgências

Cresci a meu modo
sonâmbulo e desigual
arvorando-me desarmado
e mesmo assim, cúmplice

Na última parte dos desejos
pintei camisas bordadas
e bebi vinhos doces
tão amargos, porém

Foram chuvas que me levaram
foram lágrimas que me lavaram
e eu segui,
sentindo em cada talho
um pequeno desconforto

Mas a madeira do meu corpo
não cresceu a tempo
ficou o ferro dos dentes
resultou a pedra e o mármore dos olhos

Tecerei em silêncio
a forma que me devolva
o nascedouro ocupado.