segunda-feira, 15 de novembro de 2010

A praça azul

Estou aqui
depois de ver os fuzilados
da Praça Azul
(os últimos sorridentes
da estação).

Olho, penso que ignoro,
mastigo minha dissidência
com força de fera,
olhos de cão.

Súbito, todas as forças
se tornaram antigas.

O pranto continua a machucar
a sombra atrás de mim
meio metro à frente do meu corpo
onde morre o silêncio
em sua foz
onde morro em mim.

Estou aqui.
há pouco tempo
lavaram a Praça Azul
adornaram-a com flores circunspectas
plantaram árvores burocráticas, habituais
vindas de outro país,
outra língua, outro som.

Agora dizemos árvore e o verde sangra.

A praça, no entanto,
permanece azul,
tão fuzilada quanto.

Aurora, 14.XI.2010, em sonho.

5 Comentários:

Às segunda-feira, novembro 15, 2010 , Blogger Silvia Góes disse...

tum-tum-tum-tum-tumm-tum-tum...

 
Às segunda-feira, novembro 15, 2010 , Blogger Arsenio disse...

Esse poema jogaria como titular na seleção Brasileira. A de 1970.

É Jairzinho. O Furacão da Copa.

Sem sair de sua aldeia(praça), é universal.

E assim o azul renasce.

Nada fica a dever, por exemplo, a um outro poema-craque-de-bola, de Thiago de Mello.

Absolutamente nada.

A PRAÇA DESTERRADA

Em abril, certa noite estive perto
da esperança do povo erguido em canto.
Antes nunca jamais meu peito certo
esteve da alegria, mas o pranto

foi que desceu lavrando no deserto
da praça desterrada. O meu espanto
não foi de ver o coração coberto
pelo medo feroz, de turvo manto.

Mas de ver que ninguém amar sabia,
como quem ama a rosa namorada,
a pátria de repente degradada.

Ver que ninguém na rua uma canção
cantou de amor chamando à rebeldia
para o trabalho amargo da alegria.

Thiago de Mello

Salve.

 
Às segunda-feira, novembro 15, 2010 , Blogger Canto da Boca disse...

Este comentário foi removido pelo autor.

 
Às segunda-feira, novembro 15, 2010 , Blogger Canto da Boca disse...

Sinto muitas referências 'cabralinas' nessa sua escrita. Uma relação profunda entre autor/ator, o sentimento do poema; entre o poeta e o conteúdo exposto, e o visível que nos permite 'especular' sobre o invisível.

Lendo-te, associei esse poema com esse outro do Joao Cabral:

"Meus olhos têm telescópios
espiando a rua,
espiando minha alma
longe de mim mil metros.
Mulheres vão e vêm nadando
em rios invisíveis.
Automóveis como peixes cegos
compõem minhas visões mecânicas.
Há vinte anos não digo a palavra
que sempre espero de mim
Ficarei indefinidamente contemplando
meu retrato eu morto".


E tantos outros que me remetem à poética cabralina.

Show de poema, Samarone!

Abraço.

 
Às segunda-feira, novembro 15, 2010 , Blogger Arsenio disse...

Canto da boca disse tudo e mais um pouco.

Gostaria de assinar embaixo.

 

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