Um pouco de poesia alheia: Konstantino Kaváfis
"Os anos da minha juventude, a vida de prazeres
como lhes vejo agora o sentido, claramente.
Os remorsos, que inúteis, que supérfluos...
Mas eu não enxergava então o seu sentido.
Foi na devassidão dos anos juvenis
que os desígnios de minha poesia se formaram,
que se esboçaram os contornos de minha arte.
Bem por isso os remorsos não eram pertinazes
e a decisão de dominar-me, de mudar,
durava, quando muito, uma semana".
Copiado em 27.06.2010, em meu caderno de estudos poéticos.
O camarada em questão é grego, e tive que traduzir do original.
6 Comentários:
Minha contribuição:
A CAMA DE PREGOS
Tenho o corpo varado de angústias
e não encontro posição de repouso.
Porque aos de minha geração
foi dado existir numa cama de pregos,
entre o espasmo e o grito,
antes da primeira frase se fazer orvalho
contra as paredes da cela.
Não há possibilidade de fuga
para nosso instinto.
Querem que o sexo floresça e murche
em nossas próprias mãos;
ou que o orgasmo seja catalogado
e obedeça aos trâmites legais.
Não há caminho que nos leve à amada.
Todos os corredores conduzem ao vestíbulo,
onde uma enfermeira nos agarra
e nos faz preencher um questionário.
Esconderam as fêmeas em arcas de veludo
e nos iludem o apetite
com mulheres da vida,
com cineminhas mambembes
e filme de sacanagem.
Mas isto não nos basta,
é preciso um espaço infinito
para nos fazermos ao largo,
como jovens leões que se lançam à planície.
Ah, visões de antigos dias,
farândolas de faunos,
virgens consumidas,
olhos de ciclopes aguardando as madrugadas!
Não haverá nesta cidade uma única mulher
verdadeiramente no cio?
Quero agitá-la como uma bandeira
entre as estrelas
e vê-la tombar,
com a face tranqüila.
Sim, deliro,
estamos todos loucos,
à beira do caos e do copo.
E contudo é preciso utilizar de alguma forma
esta convulsão incontida.
Mesmo que tudo termine
na cama de pregos,
seguros pela enfermeira
e cheirando clorofórmio.
Não, por Deus,
não me façam uma incisão no crânio.
Eu sei que estou preso num palácio de espelhos
e é preciso quebrar tudo!"
Eduardo Alves da Costa está vivíssimo da silva.
Poeta com filiação ao grupo conhecido por Novíssimos (poetas marginais que se reuniam em São Paulo no começo dos anos 60 - embora ele seja carioca)alcançou a celebridade por ser o autor do famoso e clássico poema "No Caminho com Maiakvoski", que de tão bom, logo atribuíram ao gênio do poeta russo, mas que nasceu da pena desse substimado poeta brasileiro.
Para quem é fã das longas caminhadas, esse poema do grande Joaquim Cardozo, que dispensa apresentações:
"AVES DE RAPINA
Há muitos anos que os caminhos se arrastavam
Subindo para as montanhas.
Percorriam as florestas perseguindo a distância,
Longos e lentos deslizavam nas planícies.
Passaram chuvas, passaram ventos,
Passaram sombras aladas…
Um dia os aviões surgiram e libertaram a distância,
Os aviões desceram e levaram os caminhos."
Excelente o "cama de pregos", Arsenio. Fiquei impressionada. Muito bom mesmo. Qualquer dia vamos escrever: "Arsenio - o homem que come poemas" e o melhor, degusta, saboreia, compartilha. Ô banquete bom!
Vou copiá-lo agora e enviá-lo a alguém que irá gostar muito.
Sama, estava comentando algo sobre o que publicaste, mas algo acabou nascendo dos meus dedos que ainda não sei o que é. Excluí daqui, sob pena de sentir 'remorso'. Acho que não cresci direito ainda, não envelheci o suficiente. O fato é que as palavras que daqui nasceram estão salvas para posterior publicação no Sementeiras (ou não). Elas estão salvas e eu, quem sabe, também.
Beijos.
Magna
kkkkkkkkkkkk, é isso aí Magna.
Gostei do título. E concordo contigo.
bjão pra tu
Este comentário foi removido pelo autor.
Sempre venho por aqui em silêncio, pois não sou poeta, sou apenas alguém que se sente tocado pela poesia... Sempre fico encantado com os poemas que aqui habitam, não só os da alma sensível de Sama, mas dos muitos leitores poetas que colocam os comentários por aqui, isso me refaz.
Abraços.
Postar um comentário
Assinar Postar comentários [Atom]
<< Página inicial