Profecia
A minha profecia
era morrer jovem
antes do almoço
com meus avós.
Mas fiquei de pé
sem os imperativos
da saudade.
Passar, passei
em meio às alterações
assombros, desvios.
A minha profecia
era viver pouco
e adormecer
após o cansaço.
Mas fiquei no caminho
com o antebraço voltado
para a luz.
E nada voltou
ao colo maduro
da vida.
Recife, 12/01/2010.
2 Comentários:
As vivências aqui são depuradas no cadinho da linguagem até chegarem à cifra certa. E chegam.
Inquietação, raiva, frustrações, resignações estão na raiz do poema. Pelo menos, foi o que notei. E o leitor, segundo nosso inconteste Nelson Rodrigues, é o sujeito mais livre do mundo.
Sem demagogia, com lirismo na dose certa, leio o poema, e os seus versos, Samarone, vão abrindo caminho na relva selvagem da linguagem, no repertório caótico de nossas cabeças cortadas.
Reconheço que a forma breve do poema, que você cultiva, oferece riscos. Porque o breve pode ser apenas pouco, o menos obtido por subtração.
No entanto, o que se dá aqui é o seguinte: grande poema breve, numa concentração sem qualquer perda, o famoso máximo no mínimo.
Mas eis que o poeta demonstra sua perícia, e colhe o poema com o arremate certeiro da economia verbal e objetividade, virtudes que, conforme Octavio Paz, são também elementos cruciais da poesia moderna.
Foi assim que recebi o poema. A leitura que fiz. Outras virão. Um poema desse quilate merece leituras e releituras.
Abraços
Completando meu racíocinio: da mesma forma que a brevidade do poema oferece riscos, poemas longos sãpo igualmente perigosos.
O risco inverte-se, e o que poderia ser poesia, ou leitura atenta e aprazível, provoca no leitor rajadas de sono, porquanto induzido à ingestão de um dormonid, o bocejo logo aparece...
Um poeta do quilate de Augusto Frederico Schimidt comumente caia nessa esparrela, e não obstante inúmeros poemas válidos e belíssimos, alguns são claramente sacais, soporíferos.
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