Ontem sonhei com meu pai
Ontem sonhei com meu pai.
Ele estava velho e duro
como sempre.
Estava em silêncio
e as lágrimas secas
como sempre.
Meu pai queria dizer algo
sobre a vida que teve
alguma alegria recente
que encontrou e perdeu
mas ficou calado
como sempre.
Ontem sonhei com meu pai.
Ele estava velho e duro
como eu.
Aurora, 27.06.2010
9 Comentários:
Agora o arremate compreendeu o poema. Num emocionado resgate memorial.
Para fazer uma tabela com o seu grande poema, Samarone, só mesmo um outro:
"QUE DEUS GUARDE MEU PAI
Não passar. Ficar para semente.
Não era isto que meu pai queria?
Sentava-se na rede e adormecia
julgando ter domado a dama ausente.
E sonhava talvez. Talvez menino
montando burros bravos, nu, ao vento;
um homem é a sua ação sobre o destino.
Meu pai então fazia um movimento
e a rede, a adormecer, estremecia:
pequenos sustos no tempo, era só isto.
E escancarava os olhos duramente
para mostrar que se Ela o procurava
era de cara a cara que a encarava..
Que Deus guarde meu pai. Eternamente."
Antonio Brasileiro, poeta baiano.
Sama, Arsenio, não apenas comenta, ele entende o que diz, o que lê. Eu, meu caro, apenas entendo este sentimento antigo, rememorado, atualizado a cada linha, cada palavra. Eu diria que teu poema é mais do que bonito, é envolvente!
E o poema que Arsenio trouxe é também comovente. Mas, eu sou bem suspeita pra falar sobre o tema. Agosto se aproximando, dia dos pais...espero ter esgotado minhas letras ano passado sobre isso.
Beijo.
Magna
Magna, valeu pelo menção delicada e honorosa.
Os poemas são demais, né não?
Pra você, segue esse poema, de um senhor que atendia pelo nome de Carlos Drummond de Andrade:
"Não passou
Passou?
Minúsculas eternidades
deglutidas por mínimos relógios
ressoam na mente cavernosa.
Não, ninguém morreu, ninguém foi infeliz.
A mão- a tua mão, nossas mãos-
rugosas, têm o antigo calor
de quando éramos vivos. Éramos?
Hoje somos mais vivos do que nunca.
Mentira, estarmos sós.
Nada, que eu sinta, passa realmente.
É tudo ilusão de ter passado."
Vixe, vi que até parece que estou imitando Arsenio, que comenta bastante por aqui. Mas não levem a mal (nem você nem Arsenio), mas é que gosto bastante de poesia e daí quando leio uma lembro de outra e por aí vai. Essa tua me remeteu a Mario Quintana:
"Por acaso, surpreendo-me no espelho: quem é esse
Que me olha e é tão mais velho do que eu?
Porém, seu rosto...é cada vez menos estranho...
Meu Deus, Meu Deus...Parece
Meu velho pai - que já morreu!
Como pude ficarmos assim?
Nosso olhar - duro - interroga:
"O que fizeste de mim?!"
Eu, Pai?! Tu é que me invadiste,
Lentamente, ruga a ruga...
(...)"
Ei, muito legais as suas poesias.
abraço,
lisandra-que-leu-seu-livro-sobre-cuba
Ah, Arsenio, é ilusão mesmo. O tempo é algo, de fato, relativo. Einstein estava certo. Fico pensando se ele (Einstein) não seria também poeta. Porque só eles nos fazem entender o que sentimos. Os psicanalistas tentam, às vezes conseguem, mas os poetas...sempre acertam em cheio.
Muitíssimo obrigada.
Abraço.
Magna
obs.:Sama, tás vendo a riqueza dos teus comentários. Quemeros é um estuário de poesia e afeto. A propósito, por que mudaste a referência no Estuário para "meus poemas na rede"? Quemeros é um nome tão lindo...e tem direito a uma identidade.
lindo!
Esses comentários deixam o sujeito feliz como o quê.
Samarone
Concordo que a referência ao blog deveria continuar "Quemeros" Sama, é mais poético e menos egoísta (meus poemas) que são teus todos nos sabemos, mas quando admiramos e ele nos toca, tornasse um pouco nosso em ilusão.
Recém-chegado a Recife, estou buscando conhecer a produção contemporânea que não fique presa aos clássicos da terra. Todos com quem falei titubeavam. Descobri teu blog. Encontrei o que precisava ler.
Obrigado. Vou comprar teus livros.
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