Por esquecimento
Eu vinha com os dentes muito atentos
Mas a fome era maior que a alvura
e uma lembrança me atingiu como um cheiro.
Era um tempo que me faltava. Uma sombra
que se perde por esquecimento.
Uma nostalgia sem razão.
Fiquei olhando os pratos, talheres, as mãos
tão delicadas.
Havia talvez uma estética
me apontando o quadro, os diálogos
a cadência dos gestos.
Mas meus dentes
estavam pulsando sem meu consentimento
A fome, repito, era maior que a alvura
e uma lembrança me atingiu como um cheiro.
Era de fato um tempo que me faltava.
Uma sombra que se perde
por esquecimento.
Aurora, 17.08.2010
2 Comentários:
Sama, noto que jamais ficas alheio a um certo maneirismo do descarnado, do ósseo, do pétreo (lembrei de João Cabral), que vem se estendendo como que uma necessidade que tens de afirmar o tratamento que dás ao discurso lírico.
A substância humana e natural do poema revela uma exigência ética, um compromisso com a angústia, com as frustruções, não digo o compromisso de mero enaltecimento, mas sobretudo o compromisso de reconhecer nesse fojo o nascimento de um idioma poético sábio, a poesia que nasce do uso do prosaico, do polrrítmico, aderente às flutuações da linguagem coloquial, e claro, com entonações tristes, mas sem a roupagem da lamúria entendiante que grassa o mundo dos leitores.
Salve, Salve.
Ps - Não há poetas de semestres. Existem poetas e não-poetas. É uma posição xiita, que pode até nos comprometer ( mas o que é o homem senão um mar de contradições?) Decerto, o próprio poeta se embebeda em fontes alheias, e assim é com todo leitor.
Ticolo cabou
ticolo cabou
ticolo cabou
as perebas sangrou
a bulacha secou
o raidinho quebrou
Ticolo cabou
ticolo cabou
ticolo cabou
a chapa descolou
a muie me gaiou
a energia cortou
Ticolo cabou
ticolo cabou
ticolo cabou
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