sábado, 7 de agosto de 2010

Descrição

Minha miséria
empresto por trinta dias
acompanhada de conhaques
e cartas nunca escritas.

Minha saudade
esta criatura esquálida
vai sobretudo à procura de uma sombra.

Dizem que tive cabelos revoltos
em um dia de sol
na infância.

Mas eu não vi, não toquei
e tudo se desmantelou.

Vou caminhando irregular,
como a poeira nos ossos, nos bolsos
nas sobrancelhas

com meu paletó de vidro
pintado de verde

para encantar as crianças.

Aurora, 6.08.2010

3 Comentários:

Às domingo, agosto 08, 2010 , Blogger Magna Santos disse...

Só há duas alternativas quanto às crianças: ou as encantamos ou as assustamos, assim são com os palhaços. Parece teres escolhido a primeira alternativa. Somente elas, as crianças, são capazes de sorrir com o teu paletó de vidro verde e a cara cheia de poeira. Somos assim mesmo, cobertos de faces, de poeira e vidro, de transparência e sujeira.
Só as crianças são capazes de soprar a poeira, embaçar o vidro e desenhar risos, sem ligar para o que achamos que somos.
Beijo.
Magna

 
Às domingo, agosto 08, 2010 , Blogger Arsenio disse...

Sem jogar pra plateia, Samarone vai marcando seus gols com a humildade dos sábios e o lirismo da mais pura cepa. É muito. E não é pra qualquer um. Esse temperamento poético de alta voltagem ainda vai fazer muita água girar. O poema em tela emociona e tem - em seu desate - uma imagem de ternura e esperança. Uma ternura chapliniana e nordestina.

 
Às domingo, agosto 08, 2010 , Blogger Samarone Lima disse...

Informo que estou 22% mais convencido hoje do que ontem, e 33%menos que amanhã.
Samarone

 

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