domingo, 19 de setembro de 2010

Morte

A morte nao é nada.

A vida que se perde
O amanha sem janelas
entre as sombras
os ferrolhos.

Com os olhos pasmos
sem aleluias
ao relento
digo teu nome.

A morte, como uma ressurreiçao
me espreita.

Pior que a morte
é a cicatriz.

Granada, 18.09.2010

4 Comentários:

Às domingo, setembro 19, 2010 , Blogger Magna Santos disse...

De fato, morte é também falta...uma chaga aberta, Sama. Isto que senti, lendo teu poema.
Embora de outra ordem esta morte, foi inevitável não lembrar de algo que escrevi ano passado, quando "perdi" mais uma daquelas idosas, na verdade, ela ainda estava lá, olhando pra mim.

OLHOS FECHADOS

E hoje eu vi a face da morte.
Sorriu para mim
Em pleno inverno
Deitou-se no chão
E me falou de saudades
Apertou meu coração
Depois chorou
E eu sorri
Para não falar.
Hoje vi a cara da morte…
Era feia
E bela
E feia de novo
E bela outra vez
Até que fechei meus olhos
E nunca mais os abri.

Beijos, Sama.
Magna

 
Às domingo, setembro 19, 2010 , Blogger Arsenio disse...

Esse poema do Sama revela bem o ímpeto poético, aquele timbre intransferível que distingue o poeta do versejador.

Há em Samarone austeridade verbal, limpeza de fatura, equilíbrio e adequação da linguagem poética.

Uma tristeza universal, de todos nós, pois há sempre um ar de despedida na atmosfera, como bem observou outro elegíaco imenso que foi Rainer Maria Rilke.

Magna, por sua vez, trouxe um brilho, um misto de pureza e dor, cujo final também é tocante.

Mas enfim, era isso que eu queria dizer.

Há um poema de autoria de Pedro Dantas, poeta bissexto, que foi jornalista.

É um poema acachapante.

Esse poema foi antologiado por Manuel Bandeira em sua clássica Antologia dos Poetas Brasileiros Bissextos. li certa vez que Toda a rapaziada (Drummond, Cecília Meireles, o proprio Bandeira, Murilo Mendes) o sabia quase de cor.

É sobre a morte.
Vou procurar e posto. Não é um poema lúgubre, à la Holderlin, mas é apoteotico

 
Às domingo, setembro 19, 2010 , Blogger Magna Santos disse...

Voltei pra relê-lo. A primeira e as duas últimas linhas se complementam, como se fossem unidas por uma ponte. Arsênio acabou acomodando as palavras a um entendimento certeiro, ao menos, de quem leu. "Tristeza universal"...é, acho que é isto mesmo.
Beijos.
Magna

 
Às domingo, setembro 19, 2010 , Blogger Arsenio disse...

Lá vai o poema - clássico - de Pedro Dantas, poeta bissexto, que escreveu esse petardo, cujo final é impactante.

Magna, um bjão pra você e Sama, continue inundando a Espanha com Baden e Vinicius.



"A cachorra


Veio uma angústia de cima,
Pelos ombros me agarrou,
No mais fundo do meu peito
Sua lâmina cravou.
Depois que no chão desfeito
O meu corpo estrebuchou,
Pelos cabelos a fera
Sobre pedras me arrastou.
Meu corpo, se espedaçou.
Mas ainda não satisfeita,
Nova vida me insuflou:
Para mostrar poderio,
Com a sua mão direita
Uma cidade arrasou,
Na esquerda tomou um rio,
Fogo nas águas soprou,
As águas todas do rio
Com seu hálito secou.
Levou-me aos cimos mais altos,
No ar me imobilizou,
Depois, em súbitos saltos,
A garra adunca fincando
No meu coração, lá do alto
Soltou um grito nefando
E sobre o mar me atirou.
Ali! nas águas do mar alto
Meu corpo logo afundou.
Veio buscar-me de novo:
Angina-péctoris, polvo,
Meu coração sufocou
E tais surras de chicote
Me deu, que a cada lambada
Minh'alma mortificada,
Minh'alma perto da morte,
Só a morte desejou;
Meu rosto esfregou na lama,
As faces me babujou
E quando, à atroz azafama,
O meu olhar se turvou,
Vencido, entregue, arquejante
— Perdido o sangue das veias —
Na praia, sobre as areias,
Meu corpo exausto rodou.
Ali! pobre corpo do amante
Que até o fim se humilhou!
Então um riso infamante
As fauces lhe escancarou,
Zombou da minha tolice:
— "Eu sou a Cachorra", disse,
"Tu me chamaste: aqui estou."


A essa voz dissiparam-se as sombras
E enquanto ela me mastigava os últimos restos da memória
Senti que da sua boca nasciam rosas
E vi que o céu se rasgava para a maravilhosa aparição."

 

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