domingo, 29 de maio de 2011

O pouco

É o que tenho, e é pouco.
Mas sei que me serve
que não se quebra por pedras
ou ossos.

De tão pouco, a mim sustenta.

Se o roubarem,
deixarão frustrados a prenda
à beira do caminho.

De nada serve para ti, estranho,
minha migalha enfeitada
meu jardim carcomido.

Meu pão tem outro nome
Meu branco costumeiro
atravessa o dia como nuvem
sem céu.

O que tenho é tão pouco
Que o chão desdenha.

Mas sei que me serve.

Um dia, talvez te salve.

Aurora, 27.05.2011

3 Comentários:

Às domingo, maio 29, 2011 , Blogger Canto da Boca disse...

Fiquei pensando no vazio que acomete a humanidade... O mundo (ou quase todo o mundo), desaprendeu a cultivar, a guardar, a compartir, é mais fácil tomar violentamente o que é do outro, o que nos agrada, o que nos falta, do que construir. Ainda bem que a poesia nos salva, a tua poesia nos serve e nos alimenta com ple ta men te!

Cheiro, Sama!

;)

 
Às segunda-feira, maio 30, 2011 , Blogger Magna Santos disse...

Pensei em não comentar este poema teu. Não queria compartilhar palavras tristes, pois elas não sei o que farão com esse pouco, que também tenho ou sou. Talvez o contenha, talvez o reduza. Não. Acho mesmo que o ressalta e o valoriza.
Venho de um fim de semana de palavras intensas, de gente pensando como cuidar de gente (creio ter te mandado hoje um email sobre). Saí meio pequena, aliás, sabendo-me pequenina, bem pequenina, do tamanho de um grão de areia.
E aí esta lágrima que me cai agora, diz do meu verdadeiro tamanho. Por isso a amo, apesar de tudo. Talvez nos salvemos todos, Sama, quem sabe. Sinceramente, só me cabe mesmo é este instante, este corpo com estes dedos que agora te escrevem.
Os pequenos que cuido sempre, as cabeças brancas que acaricio...nem sei se faço direito, mas sei que faço o que me cabe nesta minha pequenez.
Quero mesmo é no final da minha vida (e isto é um grande sonho), poder olhar pra traz e falar como Saramago:
"Tudo o que fiz na vida foi tentando não envergonhar a criança que um dia eu fui".
Se ainda lá eu disser isso do fundo do coração e puder sorrir, estarei em paz.
Perdão mesmo por estas palavras, pelo meu pouco. Ele hoje para mim é muito, talvez o excesso da minha angústia pelos pedaços de outras gentes que encontro no meu caminho. Desculpe, foi só um desabafo. Eu não tenho esse peso todo, espero que saibas disso.
Beijão.
Magna

 
Às quarta-feira, março 21, 2012 , Blogger Silvia Góes disse...

"...é pouco, é bastante
é um ter sem ter-se,
um tempo que parece não passar
pois que nada acontecendo
nada é destruído."

José Paulo Moreira da Fonseca e o que a memória vibra agora...

 

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