Crença
Creio na germinação dos astros
na desordem das entranhas
na clorofila dos teus olhos
céus intrigados, oceanos famintos
Acredito nos indecifráveis murmúrios
que ficaram e que virão
na esperança desajeitada que me ampara
nos vulcões silenciados que me queimam
Acredio nas estrelas que não existem
mas estão
na beleza dos que cansaram
no magma dos que lutam até cair
no caos das horas vivas e mortas
nos pássaros sem asas que migram em comunhão
Acredito no coração que late como um cão
na viuvez dos que não souberam amar
na fome mastigada e nunca impotente
Acredito sobretudo nas cartas nunca postadas
nas infâncias perdidas que formam girassóis
nos minutos que embranquecem cabelos
Acredito no florescer das ruas molhadas
nos cães que ladram por costume
na troca de olhares dos vaga-lumes e sentinelas
na terra úmida que não é de água
Acredito na ternura da noite que ainda não veio
nos ossos e na carne que não vingaram
nos sonhos não lembrados e cada vez mais vivos
na morte das mariposas que nunca estão
Acredito no meu silêncio inexplicável
na minha febre de exílio sem pátria
na minha fome de lutar desarmado
Acredito no desespero e na calma das avalanches
que habitam meus olhos
e mais que tudo
acredito em ti.
São Paulo, 1999.
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