quinta-feira, 8 de dezembro de 2005

Crença

Samarone Lima

Acredito na germinação dos astros
Na desordem das entranhas
Na clorofila que evapora dos teus olhos
Céus intrigados, oceanos famintos.
Acredito nos indecifráveis murmúrios
Que ficaram e que virão
na esperança desajeitada que me ampara
Nos vulcões silenciados
Que me queimam
Nas estrelas que não existem mas estão.
Acredito na beleza dos que cansaram
No magma dos que lutam até cair
No caos das horas vivas e mortas
Nos pássaros sem asas que migram em comunhão.
Acredito no coração que late como um cão
Na viuvez dos que não souberam amar
Na fome mastigada e nunca impotente.
Acredito sobretudo nas cartas nunca postadas
Nas infâncias perdidas que formam girassóis
Nos minutos que embranquecem cabelos.
no florescer das ruas molhadas
Nos cães que ladram por costume
Na troca de olhares dos vaga-lumes e sentinelas
Na terra úmida que não é de água.
Acredito na ternura da noite que ainda não veio
Nos ossos e na carne que não vingam
Nos sonhos nunca lembrados mas adormecidos
Na morte como mariposas que nunca estão.
Acredito no meu silêncio inexplicável
Na minha febre de exílio sem pátria
Na minha fome de lutar desarmado.
Acredito no amor que, maltratado,
Resplandece alegre
Mesmo sem motivo.
Acredito no amor que receberam
Os peitos desnudos e as almas simples.
no desespero e na calma das avalanches
Que habitam meus olhos.

E mais que tudo

Acredito em ti.

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